291E PROSSEGUINDO Jó em sua parábola, disse: 2Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses
passados, como nos dias em que Deus me guardava! 3Quando
fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu com a sua luz caminhava pelas trevas; 4Como era nos dias da minha mocidade, quando 29.4: ou a amizadeo segredo de Deus estava sobre a minha tenda; 5Quando o Todo-poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos em redor de mim. 6Quando
Dt 32.13
33.24
Jó 20.17
lavava os meus passos em manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite; 7Quando saía para a porta da cidade, e na praça fazia preparar a minha cadeira. 8Os moços me viam, e se escondiam, e os idosos se levantavam e se punham em pé; 9Os príncipes continham as suas palavras, e punham a
mão sobre a sua boca; 10A voz dos chefes se escondia; e a sua língua se pegava ao seu paladar; 11Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; 12Porque eu
24.11
livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. 13A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. 14Cobria-me de
Is 59.17
61.10
Ef 6.14
justiça, e ela me servia de vestido; como manto e diadema era o meu juízo. 15Eu era o olho do cego, e os pés do coxo; 16Dos necessitados era pai, e as causas
de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência; 17E quebrava os queixais do perverso, e dos seus dentes tirava a presa. 18E dizia: No meu ninho expirarei, e multiplicarei os meus dias como a areia. 19A minha
Jr 17.8
raiz se estendia junto às águas, e o orvalho fazia assento sobre os meus ramos; 20A minha honra se renovava em mim,
e o meu arco se reforçava na minha mão. 21Ouvindo-me esperavam, e em silêncio atendiam ao meu conselho. 22Acabada a minha palavra, não replicavam, e minhas razões destilavam sobre eles; 23Porque me esperavam como à chuva; e abriam a sua boca, como à
chuva, tardia. 24Se me ria para eles, não o criam, e não faziam abater a luz do meu rosto; 25Se eu escolhia o seu caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas, como aquele que consola os que pranteiam.
301MAS agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. 2De que também me serviria a força das mãos? já de velhice se tinha esgotado neles. 3De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. 4Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros. 5Do meio dos homens eram expulsos; gritava-se contra eles, como contra um ladrão; 6Para habitarem nos barrancos dos vales, e nas cavernas da terra e das rochas. 7Bramavam entre os arbustos, e ajuntavam-se debaixo das urtigas. 8Eram filhos de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra eram expulsos. 9Mas
Lm 3.14,63
agora sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio. 10Abominam-me, e fogem para longe de mim
e no meu rosto não se privam de cuspir. 11Porque Deus
Rm 11.33-34
desatou a sua corda, e me oprimiu: pelo que sacudiram de si o freio perante o meu rosto. 12À direita se levantam os moços; empurram os meus pés, e preparam contra
8.10-11,19
16.1
mim os seus caminhos de destruição. 13Desbaratam-me o meu caminho; promovem a minha miséria; uma gente que não tem nenhum ajudador. 14Vêm contra mim como por uma grande brecha, e revolvem-se entre a assolação. 15Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha 30.15: ou nobrezahonra, e como nuvem passou a minha felicidade. 16E agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim. 17De noite se me traspassam os meus ossos, e o mal que me corrói não descansa. 18Pela grande força do meu mal se demudou o meu vestido, que, como o cabeção da minha túnica, me cinge. 19Lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza. 20Clamo a ti, mas tu não me respondes; estou em pé, mas para mim não atentas. 21Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente. 22Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser. 23Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento destinada
a todos os viventes. 24Mas não estenderá a mão para um montão de terra, se houver clamor nele na sua desventura? 25Porventura, não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado? 26Todavia aguardando
eu o bem, eis que me veio o mal, e esperando eu a luz, veio a escuridão. 27As minhas entranhas fervem e não estão quietas; os dias da aflição me surpreenderam. 28Denegrido ando, mas não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro. 29Irmão
me fiz dos 30.29: ou chacaisdragões, e companheiro dos avestruzes. 30Enegreceu-se a minha pele
5.10
sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor. 31Pelo que se tornou a minha harpa em lamentação, e o meu órgão em voz dos que choram.
311FIZ concerto com os meus olhos;
como pois os fixaria numa virgem? 2Porque qual seria a parte
27.13
de Deus vinda de cima, ou a herança do Todo-poderoso desde as alturas? 3Porventura não é a perdição para o perverso, o desastre para os que obram iniquidade? 4Ou não vê
Jó 34.21
Pv 5.21
15.3
Jr 32.19
ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos? 5Se andei com vaidade, e se o meu pé se apressou para o engano 6(Pese-me em balanças fiéis, e saberá Deus a minha sinceridade); 7Se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração
Ec 11.9
Ez 6.9
Mt 5.29
segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou alguma cousa, 8Então semeie eu
Dt 28.30,38
e outro coma, e seja a minha descendência arrancada até à raiz. 9Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu andei rondando à porta do meu próximo, 10Então moa minha mulher para
Jr 8.10
outro, e outros se encurvem sobre ela. 11Porque isso seria uma
Lv 20.10
Dt 22.22
Jó 31.28
infâmia, e delito pertencente aos juízes. 12Porque é fogo que consome até à perdição, e desarraigaria toda a minha renda. 13Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo, 14Então que faria eu quando Deus se levantasse? E, inquirindo a causa, que lhe responderia? 15Aquele
Pv 14.31
22.2
Ml 3.10
que me formou no ventre não o fez também a ele? Ou não nos formou do mesmo modo na madre? 16Se retive o que os pobres desejavam, ou fiz desfalecer os olhos da viúva; 17Ou só comi o meu bocado, e o órfão não comeu dele 18(Porque desde a minha mocidade cresceu comigo como com seu pai, e o guiei desde o ventre da minha mãe); 19Se a alguém vi perecer por falta de vestido, e ao necessitado por não ter coberta; 20Se os seus lombos me não
abençoaram, se ele não se aquentava com as peles dos meus cordeiros; 21Se eu levantei a minha mão contra
o órfão, porque na porta via a minha ajuda, 22Então caia do ombro a minha espádua, e quebre-se o meu braço desde o osso. 23Porque o castigo de Deus era para mim um
Jl 1.15
assombro, e eu não podia suportar a sua grandeza. 24Se
1Tm 6.17
no ouro pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha confiança; 25Se
me alegrei de que era muita a minha fazenda, e de que a minha mão tinha alcançado muito; 26Se olhei
11.16
17.3
Ez 3.16
para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando gloriosa, 27E o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão, 28Também isto seria
delito pertencente ao juiz; pois assim negaria a Deus que está em cima. 29Se me alegrei
da desgraça do que me tem ódio, e se eu exultei quando o mal o achou 30(Também não deixei
Rm 12.14
pecar o meu paladar, desejando a sua morte com maldição); 31Se a gente da minha tenda não disse: Ah! quem se não terá saciado com a sua carne! 32O estrangeiro
não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante. 33Se, como Adão encobri as minhas
Pv 28.13
transgressões, ocultando o meu delito no meu seio; 34Trema eu perante uma
grande multidão, e o desprezo das famílias me apavore, e eu me cale, e não saia da porta. 35Ah! quem me dera um que me ouvisse! Eis que o meu intento é que o Todo-poderoso
me responda, e que o meu adversário escreva um livro. 36Por certo que o levaria sobre o meu ombro, sobre mim o ataria como coroa. 37O número dos meus passos lhe mostraria; como
Tg 5.4
príncipe me chegaria a ele. 38Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus regos juntamente chorarem; 39Se comi a sua novidade sem dinheiro, e sufoquei a alma dos seus donos. 40Por trigo me produza cardos,
e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó.