221Tendo partido os filhos de Israel, acamparam-se nas campinas de Moabe, além do Jordão, na altura de Jericó. 2Viu, pois, Balaque, filho de Zipor, tudo o que Israel fizera aos amorreus; 3Moabe teve grande medo deste povo, porque era muito; e andava angustiado por causa dos filhos de Israel; 4pelo que Moabe disse aos anciãos dos midianitas: Agora, lamberá esta multidão tudo quanto houver ao redor de nós, como o boi lambe a erva do campo. Balaque, filho de Zipor, naquele tempo, era rei dos moabitas. 5Enviou ele mensageiros a Balaão, filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio Eufrates, na terra dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo saiu do Egito, cobre a face da terra e está morando defronte de mim. 6Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois é mais poderoso do que eu; para ver se o poderei ferir e lançar fora da terra, porque sei que a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado.
7Então, foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas, levando consigo o preço dos encantamentos; e chegaram a Balaão e lhe referiram as palavras de Balaque. 8Balaão lhes disse: Ficai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o Senhor me falar; então, os príncipes dos moabitas ficaram com Balaão. 9Veio Deus a Balaão e disse: Quem são estes homens contigo? 10Respondeu Balaão a Deus: Balaque, rei dos moabitas, filho de Zipor, os enviou para que me dissessem: 11Eis que o povo que saiu do Egito cobre a face da terra; vem, agora, amaldiçoa-mo; talvez eu possa combatê-lo e lançá-lo fora. 12Então, disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado. 13Levantou-se Balaão pela manhã e disse aos príncipes de Balaque: Tornai à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco. 14Tendo-se levantado os príncipes dos moabitas, foram a Balaque e disseram: Balaão recusou vir conosco.
15De novo, enviou Balaque príncipes, em maior número e mais honrados do que os primeiros, 16os quais chegaram a Balaão e lhe disseram: Assim diz Balaque, filho de Zipor: Peço-te não te demores em vir a mim, 17porque grandemente te honrarei e farei tudo o que me disseres; vem, pois, rogo-te, amaldiçoa-me este povo. 18Respondeu Balaão aos oficiais de Balaque: Ainda que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia traspassar o mandado do Senhor, meu Deus, para fazer coisa pequena ou grande; 19agora, pois, rogo-vos que também aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais o Senhor me dirá. 20Veio, pois, o Senhor a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens vieram chamar-te, levanta-te, vai com eles; todavia, farás somente o que eu te disser.
21Então, Balaão levantou-se pela manhã, albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moabe. 22Acendeu-se a ira de Deus, porque ele se foi; e o Anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário. Ora, Balaão ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos, com ele. 23Viu, pois, a jumenta o Anjo do Senhor parado no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que se desviou a jumenta do caminho, indo pelo campo; então, Balaão espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho. 24Mas o Anjo do Senhor pôs-se numa vereda entre as vinhas, havendo muro de um e outro lado. 25Vendo, pois, a jumenta o Anjo do Senhor, coseu-se contra o muro e comprimiu contra este o pé de Balaão; por isso, tornou a espancá-la. 26Então, o Anjo do Senhor passou mais adiante e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita, nem para a esquerda. 27Vendo a jumenta o Anjo do Senhor, deixou-se cair debaixo de Balaão; acendeu-se a ira de Balaão, e espancou a jumenta com a vara. 28Então, o Senhor fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? 29Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. 30Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não.
31Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão, ele viu o Anjo do Senhor, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra. 32Então, o Anjo do Senhor lhe disse: Por que já três vezes espancaste a jumenta? Eis que eu saí como teu adversário, porque o teu caminho é perverso diante de mim; 33a jumenta me viu e já três vezes se desviou de diante de mim; na verdade, eu, agora, te haveria matado e a ela deixaria com vida. 34Então, Balaão disse ao Anjo do Senhor: Pequei, porque não soube que estavas neste caminho para te opores a mim; agora, se parece mal aos teus olhos, voltarei. 35Tornou o Anjo do Senhor a Balaão: Vai-te com estes homens; mas somente aquilo que eu te disser, isso falarás. Assim, Balaão se foi com os príncipes de Balaque.
36Tendo Balaque ouvido que Balaão havia chegado, saiu-lhe ao encontro até à cidade de Moabe, que está nos confins do Arnom e na fronteira extrema. 37Perguntou Balaque a Balaão: Porventura, não enviei mensageiros a chamar-te? Por que não vieste a mim? Não posso eu, na verdade, honrar-te? 38Respondeu Balaão a Balaque: Eis-me perante ti; acaso, poderei eu, agora, falar alguma coisa? A palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei. 39Balaão foi com Balaque, e chegaram a Quiriate-Huzote. 40Então, Balaque sacrificou bois e ovelhas; e deles enviou a Balaão e aos príncipes que estavam com ele. 41Sucedeu que, pela manhã, Balaque tomou a Balaão e o fez subir a Bamote-Baal; e Balaão viu dali a parte mais próxima do povo.
231Então, Balaão disse a Balaque: Edifica-me, aqui, sete altares e prepara-me sete novilhos e sete carneiros. 2Fez, pois, Balaque como Balaão dissera; e Balaque e Balaão ofereceram um novilho e um carneiro sobre cada altar. 3Disse mais Balaão a Balaque: Fica-te junto do teu holocausto, e eu irei; porventura, o Senhor me sairá ao encontro, e o que me mostrar to notificarei. Então, subiu a um morro desnudo. 4Encontrando-se Deus com Balaão, este lhe disse: Preparei sete altares e sobre cada um ofereci um novilho e um carneiro. 5Então, o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão e disse: Torna para Balaque e falarás assim. 6E, tornando para ele, eis que estava junto do seu holocausto, ele e todos os príncipes dos moabitas. 7Então, proferiu a sua palavra e disse:
Balaque me fez vir de Arã,
o rei de Moabe, dos montes do Oriente;
vem, amaldiçoa-me a Jacó,
e vem, denuncia a Israel.
8Como posso amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou?
Como posso denunciar a quem o Senhor não denunciou?
9Pois do cimo das penhas vejo Israel
e dos outeiros o contemplo:
eis que é povo que habita só
e não será reputado entre as nações.
10Quem contou o pó de Jacó
ou enumerou a quarta parte de Israel?
Que eu morra a morte dos justos,
e o meu fim seja como o dele.
11Então, disse Balaque a Balaão: Que me fizeste? Chamei-te para amaldiçoar os meus inimigos, mas eis que somente os abençoaste. 12Mas ele respondeu: Porventura, não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha boca?
13Então, Balaque lhe disse: Rogo-te que venhas comigo a outro lugar, donde verás o povo; verás somente a parte mais próxima dele e não o verás todo; e amaldiçoa-mo dali. 14Levou-o consigo ao campo de Zofim, ao cimo de Pisga; e edificou sete altares e sobre cada um ofereceu um novilho e um carneiro. 15Então, disse Balaão a Balaque: Fica, aqui, junto do teu holocausto, e eu irei ali ao encontro do Senhor. 16Encontrando-se o Senhor com Balaão, pôs-lhe na boca a palavra e disse: Torna para Balaque e assim falarás. 17Vindo a ele, eis que estava junto do holocausto, e os príncipes dos moabitas, com ele. Perguntou-lhe, pois, Balaque: Que falou o Senhor? 18Então, proferiu a sua palavra e disse:
Levanta-te, Balaque, e ouve;
escuta-me, filho de Zipor:
19Deus não é homem, para que minta;
nem filho de homem, para que se arrependa.
Porventura, tendo ele prometido, não o fará?
Ou, tendo falado, não o cumprirá?
20Eis que para abençoar recebi ordem;
ele abençoou, não o posso revogar.
21Não viu iniquidade em Jacó,
nem contemplou desventura em Israel;
o Senhor, seu Deus, está com ele,
no meio dele se ouvem aclamações ao seu Rei.
22Deus os tirou do Egito;
as forças deles são como as do boi selvagem.
23Pois contra Jacó não vale encantamento,
nem adivinhação contra Israel;
agora, se poderá dizer de Jacó e de Israel:
Que coisas tem feito Deus!
24Eis que o povo se levanta como leoa
e se ergue como leão;
não se deita até que devore a presa
e beba o sangue dos que forem mortos.
25Então, disse Balaque a Balaão: Nem o amaldiçoarás, nem o abençoarás. 26Porém Balaão respondeu e disse a Balaque: Não te disse eu: tudo o que o Senhor falar, isso farei? 27Disse mais Balaque a Balaão: Ora, vem, e te levarei a outro lugar; porventura, parecerá bem aos olhos de Deus que dali mo amaldiçoes. 28Então, Balaque levou Balaão consigo ao cimo de Peor, que olha para o lado do deserto. 29Balaão disse a Balaque: Edifica-me, aqui, sete altares e prepara-me sete novilhos e sete carneiros. 30Balaque, pois, fez como dissera Balaão e ofereceu sobre cada altar um novilho e um carneiro.
241Vendo Balaão que bem parecia aos olhos do Senhor que abençoasse a Israel, não foi esta vez, como antes, ao encontro de agouros, mas voltou o rosto para o deserto. 2Levantando Balaão os olhos e vendo Israel acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus. 3Proferiu a sua palavra e disse:
Palavra de Balaão, filho de Beor,
palavra do homem de olhos abertos;
4palavra daquele que ouve os ditos de Deus,
o que tem a visão do Todo-Poderoso
e prostra-se, porém de olhos abertos:
5Que boas são as tuas tendas, ó Jacó!
Que boas são as tuas moradas, ó Israel!
6Como vales que se estendem,
como jardins à beira dos rios,
como árvores de sândalo que o Senhor plantou,
como cedros junto às águas.
7Águas manarão de seus baldes,
e as suas sementeiras terão águas abundantes;
o seu rei se levantará mais do que Agague,
e o seu reino será exaltado.
8Deus tirou do Egito a Israel,
cujas forças são como as do boi selvagem;
consumirá as nações, seus inimigos,
e quebrará seus ossos,
e, com as suas setas, os atravessará.
9Este abaixou-se,
deitou-se como leão
e como leoa; quem o despertará?
Benditos
os que te abençoarem,
e malditos os que te amaldiçoarem.
10Então, a ira de Balaque se acendeu contra Balaão, e bateu ele as suas palmas. Disse Balaque a Balaão: Chamei-te para amaldiçoares os meus inimigos; porém, agora, já três vezes, somente os abençoaste. 11Agora, pois, vai-te embora para tua casa; eu dissera que te cumularia de honras; mas eis que o Senhor te privou delas. 12Então, Balaão disse a Balaque: Não falei eu também aos teus mensageiros, que me enviaste, dizendo: 13ainda que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e ouro, não poderia traspassar o mandado do Senhor, fazendo de mim mesmo bem ou mal; o que o Senhor falar, isso falarei? 14Agora, eis que vou ao meu povo; vem, avisar-te-ei do que fará este povo ao teu, nos últimos dias.
15Então, proferiu a sua palavra e disse:
Palavra de Balaão, filho de Beor,
palavra do homem de olhos abertos,
16palavra daquele que ouve os ditos de Deus
e sabe a ciência do Altíssimo;
daquele que tem a visão do Todo-Poderoso
e prostra-se, porém de olhos abertos:
17Vê-lo-ei, mas não agora;
contemplá-lo-ei, mas não de perto;
uma estrela procederá de Jacó,
de Israel subirá um cetro
que ferirá as têmporas de Moabe
e destruirá todos os filhos de Sete.
18Edom será uma possessão;
Seir, seus inimigos, também será uma possessão;
mas Israel fará proezas.
19De Jacó sairá o dominador
e exterminará os que restam das cidades.
20Viu Balaão a Amaleque, proferiu a sua palavra e disse:Amaleque é o primeiro das nações;
porém o seu fim será destruição.
21Viu os queneus, proferiu a sua palavra e disse:Segura está a tua habitação,
e puseste o teu ninho na penha.
22Todavia, o queneu será consumido.
Até quando? Assur te levará cativo.
23Proferiu ainda a sua palavra e disse:Ai! Quem viverá, quando Deus fizer isto?
24Homens virão das costas de Quitim em suas naus;
afligirão a Assur e a Héber;
e também eles mesmos perecerão.
25Então, Balaão se levantou, e se foi, e voltou para a sua terra; e também Balaque se foi pelo seu caminho.